sexta-feira, 25 de junho de 2010

Uma lição .






Vovô ama vovó. É um amor muito lindo, maduro e real, mas todos sabemos, pelo menos eu e vovó (e agora quem ler isso), que nem sempre foi assim. Adoro ouvir as histórias do meu vô, elas são bem divertidas, me sinto num filme da sessão da tarde. Um dia eu estava fuçando a velha gaveta do vovô e achei várias coisas antigas, inclusive uma certa foto. Ela estava meio amarela, meio cinza e meu vô ainda tinha cabelo. Nessa foto estavam meu avô, dois amigos e uma menina linda! Fiquei meio de cara, assumo. Vovô estava abraçado com ela. Não era qualquer abraço. Não entendi ! Para mim vovô e vovó sempre estiveram juntos. Resolvi perguntar a ele o que aquilo significava.
Vovô riu
Eu fiquei confusa.
Ele riu e me olhou com aquele olhar de velho sábio, me mandou sentar e resolveu me ensinar uma boa lição.
- Esta foto é muito antiga. Eu tinha 15 anos e ainda tinha cabelo – eu não pude conter o riso, mas imediatamente parei de rir e dei toda atenção – Eu era muito jovem, muito moço e não tinha a mínima noção de amor. Essa menina se chamava Dulce e foi meu primeiro amor – vovô amou alguém antes da vovó? – Ela era bem bonito e tinha 17 anos. Quando a vi pela primeira vez eu fiquei louco. Sempre fui muito confiante e muito malandro, mas Dulce apareceu. Ela tinha um sorriso lindo e belas pernas. Era inteligente e não era a mais bonitas das moças, mas sem dúvida a mais atraente. Eu a conheci na saída da escola, ela estava passando com aquela saia no joelho e deixou cair o estojo de maquiagem exatamente na porta da minha escola. Corri atrás dela e vou confessar que não por causa da minha honestidade de menino. Meninos nessa idade não são movidos pela honestidade. Mas eu fui! Segurei o braço dela e ela me olhou com aqueles olhos cor de avelã e entreguei o e lhe entreguei o estojo. Ela me agradeceu. Nos dias que se passaram fiquei elétrico querendo ver essa menina de novo, mas ela não passava. Até que numa quinta feira ela desceu a rua chorando e eu não pude evitar. Mais uma vez eu resolvi me aproveitar da minha cara de bom moço e fui atrás dela. Eu a encontrei encostada na parede chorando, soluçando. Eu a acolhi, entreguei meus ombros e uma semana depois, meu amor. Começamos a sair. Eu estava iniciando o Ensino Médio e ela terminando , me sentia o máximo por isso. Depois começamos a namorar. Eu era um devoto, ela me fazia de escravo, eu a colocava num pedestal. Escrevi várias cartas , mandei flores . Era louco de amor! Se eu ficasse sem ver Dulce eu pirava, suava frio, não queria viver. Ela se tornou a minha vida. Até que um dia o motivo do choro dela voltou e disse que estava arrependido, que havia cometido o maior erro da vida dele e então ela voltou pra ele . Meu mundo caiu... Não tinha ânimo algum ... pra nada! Não queria sair e até minhas notas caíram. Eu me isolei , fiquei triste e chorei todas as noites. Tomei uma decisão : Nunca mais iria me apaixonar! Quando entre pro exército acabei me enganando. Encontrei uma outra pessoa. Uma pessoa especial, cheia de sonhos e que me arrebatou... – Ele fez uma longa pausa
- Fala vô! O que houve ?
- Me casei com ela ... – Ele riu
- Não vai me dizer que ela também...
- Não ! Essa era diferente . E agora estou a exatos 45 anos junto dela.
- Ah! Sim...
- Mas e a outra?
- Escute! O coração tem essas coisas. Você ainda é jovem, mas eu duvido que nunca tenha se decepcionado. O importante é que você deve saber que o mundo gira, as coisas mudam... Inclusive o coração. Quando o amor te chamar , atenda... e converse bem com ele. Quando a ligação terminar você se sentirá meio estranha por ter desligado, vai querer discar de novo o mesmo número,mas lembre que você sempre pode fazer outras ligações , basta pedir o telefone.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ela e Ele.



Ela uma moça de família. Ele um moleque louco com uma moto.
Ela quietinha, na dela. Ele era observado por todos o lugares onde passava.
Ela era virgem. Ele já tinha dormido com metade da cidade.
Ela tinha sonhos. Ele não acreditava nos dele.
Ela queria que casar de branco e tudo. Ele só queria se divertir.
Ela queria guardar tudo no coração. Ele queria compartilhar com o amigos de farra.
Ela inteligente, aplicada. Ele só sabia de moto.
Ela olhou pra ele. Ele sorriu pra ela.
Ela gostou dos lábios dele. Ele gosto da íris dela.
Ela resolveu se entregar. Ele resolveu não se apegar.
Ela tentou, tentou. Ele cedeu.
Ela disse. Ele completou a frase
Ela e ele diferentes. Ela e ele juntos. Perfeitamente juntos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nada restou




Eu procurei consolo e conforto em várias camas e por causa disso a minha sempre esteve quente, apesar de minha pele se manter fria. Eu procurei me ocupar de diversas formas, com várias tarefas, em um dia eu fazia milhões de coisas. Eu tentei ir ao psicólogo e até ao psiquiatra. Eu me tranquei em mim e guardei a chave num canto onde somente eu euncotraria. Eu criei um refúgio para o meu coração e vaguei pelas noites, sozinha,atrás de alguma encreca. Comecei a eliminar tudo o que sentia e me repreendia em frente ao espelho quando fraquejava. Então comecei a ficar vazia. Eliminei todas as lembranças, todas as parte bonitas, e as tristes também. Depois de tudo isso percebi o que eu mais temia, tudo o que me preenchia era você.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Antigo Refúgio





Ela acendeu a luz do quarto e olhou toda aquela bagunça. Ela riu. Pegou as caixa que estavam no corredor e levou para dentro do seu quarto. Começou pelos livros nas prateleiras. Quantos livros ela havia lido durante esses anos todos. Pegou um por um e não pode evitar , leu todos os títulos até que de repente caiu de um dos livros uma carta. A carta estava envelopada, um envelope vermelho e estava escrito no verso “Para uma amiga que iluminou meus dias “ ela sentiu uma coisa estranha, saudade talvez. Imediatamente abriu o envelope e sentou na ponta da cama que ainda estava coberta com o cobertor roxo que um dia ela tanto gostou. Leu a carta e não pode conter o choro : “ Vou me mudar daqui a algumas semanas. Prometi que não o faria , mas não posso evitar...” Continuou lendo e o sentimento gritou dentro dela quando leu o nome: “ beijos Daniel .” Ela riu e mordicou os lábios, pegou a carta e deixou em cima da cama, levantou e passou os dedos pelo cobertor. Depois de encaixotar todos os livros, ela resolveu abrir os portas CDs , acho que ela esperava achar mais uma relíquia como a carta. Ela achou. No meio de tantas bandas ela achou uma relíquia daquelas. Ao encontrar um CD escrito “We are singers” ela gargalhou e colocou para tocar.O cd continha 5 músicas que ela e seus amigos haviam gravados, uma desafinação total, mas que para aquela ocasião era uma ótima trilha sonora. Guardou todos os CDs, livros e pôster de seus atores favoritos . Então viu que ainda faltava muita coisa.Abriu o armário branco e só tinha o velho uniforme de escola. No fundo do armário uma caixa colorida e não pode acreditar, ela ainda tinha aquela caixa. Na caixa haviam recortes, conversas em folhas de fichário, fotos malucas, umas cartas que nunca foram enviadas , listas com nomes de meninos e muitas coisas as quais essa menina havia esquecido. Achou uma foto em cima de sua velha escrivaninha. Passou os dedos nela como se estivesse sentindo a pele através do vidro. Seus cabelos era completamente diferente. Tinha o cabelo quase branco e todo colorido, cheio de mechas azuis, rosas e roxas. Seu rosto também era diferente, era desenhado por uma franjinha e mais infantil. Ela encaixotou tudo, lacrou as caixas e depois tudo foi levado para o caminhão de mudanças. Fazia exatamente um ano que ela não entrava ali. Ela gostou de toda a atmosfera que sentiu ali dentro. Aquele lugar era dela, foi dela durante quase toda sua existência. Ali dormiram amigas, foram reveladas coisas e muito mais. Ela se sentia confortável, durante muito tempo aquele pedacinho da casa era seu refúgio , sua zona de conforto. Como ela poderia não gostar de estar ali de volta com o velho cobertor roxo, com as estrelas pintadas no teto e com a velha escrivaninha? Ela resolveu não encaixotar o cobertor, ela o botou numa sacola e levou com ela para o campus da sua faculdade. Levou também a foto e a carta de Daniel. Antes de sair e trancar aquilo ali pra sempre ela pegou um pedaço de papel e uma caneta que sempre levava na bolsa,resolveu deixar um recado pra o próximo morador ou moradora dali.

“ Meu nome não importa, nem a minha idade e nem o motivo dessa carta. Quero que você saiba que esse lugar foi muito especial e haviam muitas relíquias pessoais aqui. Este era o meu lugar seguro e agora vai ser seu. Cuide bem daqui. Cuide das estrelas no teto, cuide dessa escrivaninha e cuide desse cobertor roxo. Vou deixá-lo dentro do armário. Não se esqueça que um dia isso aqui vai ser melhor que você já teve um dia. Cuide com carinho.”
Ela dobrou e colocou em cima da escrivaninha e resolveu deixar o cobertor ali. Apagou as luzes e deu uma última olhada pra o seu céu artificial e fechou a porta.

Não há nada igual

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