domingo, 15 de abril de 2012

Quando o fim acontece



Você vai sair esta noite. Já se passaram alguns meses e você resolveu que já estava na hora de sair, afinal você nunca foi mulher de ficar enclausurada e ressentida.  E então resolveu se maquiar, bem de leve, nada que diga que você quer dizer que está bem. Nada muito vulgar também, principalmente porque você realmente está bem.  Você vai usar aqueles brincos lindos que ele havia te dado. Ironia. Meses atrás você jamais usaria aqueles brincos porque os achava muito chamativos e agora você iria usá-los, sem medo de ser feliz.  Não usou.
Você chegou ao bar. Não saiu do carro, pois fazia tempos que você  não ia a um lugar sozinha. Você se sentiu estranha, mas estava bem. Respirou fundo, se olhou no retrovisor e saiu do carro. Da porta procurou pelos poucos amigos que iriam nesse pequeno encontro. Teve medo.  Não teve. Talvez um pouco. Conta outra donzela! Você estava morrendo de medo. O que as pessoas iriam perguntar. E se elas não perguntassem nada? Seria esse um sinal de que o romance estava fadado ao fracasso. Afastou esses pensamentos de você. Olhou pelo barzinho aconchegante e encontrou duas pessoas. Duas pessoas que você não queria encontrar. 
Lá estava ele. Sentado, risonho , feliz. Opa ! Ele estava acompanhado. Uma bela moça. Morena, belos cabelos negros. Bonita.  Um pontada de ciúme? Nada. Tristeza, apenas. Não era tristeza. Nostalgia? Saudade? Percebeu que estava começando a sentir inveja da moça. Logo depois percebeu que ela era quem deveria sentir inveja de você, afinal você esteve com ele durante anos e ela? Semanas? Meses? Ou teriam sido anos? Não , ele jamais faria isso. Ficou em dúvida. Não! Absurdo! Ele nunca faria isso. Mas se ele fez o problema é dele e você está bem , não é mesmo? 
O seus  olhos se encontraram com os dele. Aqueles olhos que te causavam aquela estranha e gostosa sensação de te despir inteira. Não te despiam, apenas a observavam. Enquanto você esboçava aquele sorriso meio triste, meio alegre, pensou em ir lá. Ia cumprimentá-lo. Ia dizer que está tudo bem desde então. Iria mentir?  Iria perguntar se ele a trocara por aquela que estava ao seu lado. Teria coragem? Deixou como estava. Sorriu. Acenou. Disse oi. Não iria até a mesa. Ele estava acompanhado e não queria interromper aquele momento. Deu outra olhada pelo bar. Ninguém conhecido para te salvar. Foi até a mesa  dele. Pensou em dar meia volta, mas se sentiu infantil. Trocaram cumprimentos. Ele estava bem. Você estava bem. Estavam todos bem. Conversaram por dois minutos. Finalmente os amigos que você esperava chegaram. Disse adeus e ele deu um beijo em sua testa. Você quis mata-lo. Você quis abraçá-lo. É isso que acontece depois do fim?  Se perguntou enquanto se dirigia até a mesa reservada pelo seu amigo mais próximo.  Alguns dos amigos  presentes te observavam, procurando algum resquício de sentimento. Nada. Talvez o fim tenha acontecido. Estremeceu. Não podia ser o fim tão rápido. Não queria chorar e também não sentiu vontade. Pensou em você, nele, nos dois. Cada um no seu canto, no seu caminho. Sentiu paz, aflição. Riu. Refletiu. Concluiu: o fim aconteceu.

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